Análise Critica da música Cálice
Cálice é uma das músicas mais panfletárias de Chico Buarque, somando se o fato dele ter como parceiro a genialidade de Gilberto Gil. A análise é extensa por apresentar versos que vêm imbuídos de metáforas usadas para expressar o drama da tortura no Brasil no período ditatorial.
“Pai, afasta de mim esse cálice”
Sintetiza a súplica por algo que se deseja ver à distância. Boa parte da música faz uma analogia entre a Paixão de Cristo e o sofrimento vivido pela população aterrorizada com o regime autoritário. O refrão faz uma alusão à agonia de Jesus no calvário, mas a ambiguidade da palavra “cálice” em relação ao imperativo “cale-se”, remete a atuação da censura.
“De vinho tinto de sangue”
O cálice é um objeto que contém algo em seu interior. Na Bíblia esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e torturas.
“Como beber dessa bebida amarga”
A metáfora do verso remete à dificuldade de aceitar um quadro social em que as pessoas eram reprimidas de forma desumana.
“Tragar a dor, engolir a labuta”
Significa a imposição de ter que aguentar a dor e aceita-la como algo banal e comum. Engolir a labuta significa ter que aceitar uma condição de trabalho subumana de forma natural e passiva.
“Mesmo calada a boca, resta o peito”
Os poetas afirmam que mesmo a pessoa tendo sua liberdade de pronunciar-se cerceada, ainda lhe resta o seu desejo, escondido e inviolável dentro do seu peito.
“Silêncio na cidade não se escuta”
O silêncio está metaforicamente relacionado à censura, que, desta forma, é entendida como uma quimera, um absurdo inexistente, porque, na medida em que o silêncio não se escuta, o silêncio não existe.
“De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra”
Não fugindo a temática da religião, Chico e Gilberto usam de metáforas para mostrar suas descrenças naquele regime político e rebaixam a figura da “pátria mãe” à