Animais e consideração moral
Quando se pergunta se os animais são dignos de consideração moral - e sempre que me refiro a “animais”, refiro-me aos animais não humanos -, como deveremos entender a questão? No sentido mais amplo do termo, dizer que um ser é digno de consideração moral é afirmar que esse ser tem estatuto moral e que não podemos ignorá-lo ou tratá-lo como nos apetecer, pois estaremos a violar determinados deveres ou obrigações. Mas serão estes deveres e obrigações aplicáveis aos animais?
Os animais têm sido utilizados pelo homem para os mais diversos fins. São fonte de alimentação, usados em testes de investigação, como meio de diversão (circos, touradas, por exemplo), como recursos para vestuário, entre outros. De facto, temos de admitir que muitos destes usos são aceites e necessários, mas por outro lado não nos podemos orgulhar do rumo que este uso tem tomado. O homem cada vez mais tem vindo a submeter os animais aos seus interesses e supostas necessidades, infligindo-lhes sofrimento e tratando-os com desprezo, apenas como se fossem meros objetos ao seu dispor.
Assim, surge o conceito de especismo, inventado por analogia com os conceitos de racismo e de sexismo, denunciando o desprezo humano em relação às outras espécies animais. O especismo consiste em, partindo do princípio de que somos animais superiores, julgarmos que os outros animais não são nada mais do que objetos que estão ao serviço dos nossos interesses, independentemente do sofrimento causado. Kant chega a afirmar que “Os animais não têm consciência de si e existem apenas como meio para um fim”. As duas vozes mais importantes que têm combatido vigorosamente este conceito são as de Peter Singer e Tom Regan. Peter Singer aplica o princípio da igualdade em relação às espécies.
O utilitarismo baseado nos interesses defende que a igualdade é um princípio moral fundamental e, ao aceitar que os juízos éticos têm de ser feitos de um ponto de vista universal,