ANALISE
O sujeito aparece na primeira pessoa do singular, como ativo no processo de construção desse cenário: “os meus pés, eu oriento, eu organizo, eu inauguro”, dando a entender que seu posicionamento é bem próximo dos acontecimentos políticos de então. Logo no primeiro verso, “sobre a cabeça os aviões”, o sujeito autor, aqui colocado como ativo no processo, afirma que nada há acima dele a não ser aviões, é um ser supremo, inquestionável, inabalável, senhor de suas atitudes. No segundo verso, “sob os meus pés os caminhões”, entende-se que os caminhões citados são uma metáfora que se refere ao povo, pisado e humilhado.
Esse posicionamento deixa clara a materialidade lingüística utilizada pelo autor, já que não fala em povo, mas em caminhões, aparentemente desconexo semanticamente. É um disfarce lingüístico muito bem utilizado pelo sujeito-autor. Vem, então, o primeiro refrão: “Viva a bossa, sa, sa,viva a palhoça, ça, ça, ça, ça.” Nota-se uma associação fonética entre “palhoça” e “palhaço”, simbolizando, este, o povo brasileiro, “feito de bobo” pelo todo poderoso governo. A escolha pelo termo “palhoça” disfarça a crítica. E a repetição do fonema /s/ pode simbolizar a gargalhada irônica de quem está por cima.
Na segunda estrofe, é preciso prestar muita atenção nas metáforas, pois vão manifestar sobremaneira o sujeito interpelado pela ideologia: criticar de forma obscura. O “monumento” a que ele faz referência é o Palácio do Planalto, sede do governo federal em Brasília. Vejamos: é de papel crepom e prata, referência as cores e a beleza; não tem