analfabetismo afetivo
O tema da afetividade é uma magnífica porta de entrada para começar uma reflexão sobre os maus-tratos e a intolerância que se propagam, de maneira sutil, no mundo contemporâneo. Não conseguimos conceitualizar ainda o importantíssimo papel da afetividade, não só na vida cotidiana, mas também em dimensões onde até há pouco ela era considerada um estorvo, como é o caso da pesquisa científica. Assunto claro para os que se preocupam, a nível mundial, com a formação de pesquisadores, pois sabem que a atitude científica é produto da partilha de rotinas com mestres treinados em orientar sua paixão para a formulação de hipóteses pertinentes que serão validadas com escrúpulo e esmero num jogo de distinções analíticas. Cada vez estamos mais dispostos a reconhecer que o tipicamente humano, o genuinamente formativo, não é a operação fria da inteligência binária, pois as máquinas sabem dizer melhor que nós que dois mais dois são quatro. O que nos caracteriza e diferencia da inteligência artificial é a capacidade de emocionar-nos, de reconstruir o mundo e o conhecimento a partir dos laços afetivos que nos impactam.
Há alguns anos, ainda acreditávamos que as máquinas poderiam substituir-nos nas tarefas fundamentais. Por isso era freqüente representar o futuro como uma sociedade robotizada. Este sonho terrível foi-se dissipando no horizonte científico e social, porque agora está claro que, se o robô pode reproduzir certas funções ou atividades humanas, ninguém conseguiu inventar um computador capaz de sentir, de comprometer-se com o entorno, de chorar ou de rir. E este não é um fato intranscendente. Como nós seres humanos só podemos descobrir-nos nos espelhos deformantes que a cultura nos oferece, hoje podemos constatar que o pesadelo do homem-máquina, tão perseguido pelo Ocidente, também serviu para ratificar de maneira profunda e certeira a autêntica dimensão do humano. O que caracteriza nosso pensamento, nossa cognição, o que nenhuma máquina jamais