Amor no tempo do capitalismo
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Que o amor é fonte de felicidade ninguém se atreve a duvidar. Mais difícil é reconhecer que é também fonte de sofrimento. No entanto, boa parte das dores interiores de muitas pessoas têm a ver, precisamente, com os temores, frustrações e desenganos que acompanham a procura e preservação do amor. Que esses sofrimentos não têm unicamente uma origem privada, psicológica, mas que derivam em parte da transformação das estruturas e das instituições sociais, é o que Eva Illouz quer mostrar neste magnífico livro, O amor nos tempos do capitalismo. (1)
Assinado por Ana Marta González
Data: 12 Novembro 2012
Ao longo das páginas deste livro, Illouz quer mostrar que o amor romântico, tal como o vivem homens e mulheres do nosso tempo, é cenário de um processo paradoxal: por um lado, os indivíduos modernos mostram-se melhor apetrechados que os seus antecessores para tolerar repetidas experiências de abandono, ruturas, engano ou separação, na medida em que se veem capazes de reagir perante tais experiências com desapego, autonomia, hedonismo, cinismo e ironia.
Por outro lado, precisamente porque desenvolveram este tipo de estratégias, privaram-se a si próprios da capacidade de amar com paixão (428).
Novo quadro nas escolhas românticas
Isto tem muito a ver com o facto de os indivíduos se verem, por si só, confrontados com a difícil tarefa de conciliar, mesmo no meio de uma relação, o seu desejo de autonomia com o desejo de reconhecimento que, sob o influxo do ideal romântico, e nas condições modernas de individualização crescente, se espera unicamente do amor do outro e não já - como acontecia outrora - da inserção numa classe.
Sem pretender excluir de modo algum a possibilidade de haver um amor moderno feliz (428), o propósito de Illouz nesta obra foi mostrar os efeitos indesejados que alguns avanços modernos - que ela designa como "a Grande Transformação" - tiveram precisamente no âmbito das relações íntimas. Deste