está escrito no letreiro do ônibus praia de belas e a moça cheia de sacolas pergunta se o ônibus passa no praia de belas. tudo bem. eu também já perguntei coisas estúpidas assim principalmente quando comecei a morar aqui. eu sempre tive um medo imenso de me perder. sou tímido então quando eu pergunto esse tipo de coisa parece que sou mais imbecil ainda porque só sei fazer a pergunta. a pergunta que eu elaborei meia hora na minha cabeça. se a pessoa tenta manter um diálogo eu não sei o que falar. balbucio algo. algo do gênero tu não pode simplesmente responder a minha pergunta e me deixar ir embora pra sempre?, ALÔ, mas geralmente eu tenho medo de me perder. só se perde quem tem algum lugar pra ir. um destino. as vezes que caminhei pelas cidades estranhas sem saber pra onde ir, digo, sem ter a necessidade de chegar em algum lugar, eu não tive medo. porque eu já estava perdido. é como se tu estivesse, naquele momento, realmente livre. nenhum horário, nenhum compromisso, nenhuma pergunta de como chegar no praia de belas. todas as esquinas são as esquinas mais fascinantes que tu já viu na vida. as pessoas correm e se matam e ficam quinze minutos com o pisca ligado para cruzar a via e tu olha e pensa: por quê. eu entendo que ela precisasse entrar no ônibus e perguntar sobre o praia de belas porque ela precisa pagar um conta até às 15:30 e depois ir no dentista ou no terapeuta mas não sei se ainda existem terapeutas talvez ela precisasse ir no psicólogo ou buscar a filha na creche. ela perguntou e eu pensei em dizer algo mas sou tímido e o motorista não disse nada também só balançou a cabeça entediado dizendo que sim que passaria no praia de belas. estou de pé, não há lugar para sentar e a moça está cheia de sacolas. um cara sentado na minha frente estuda para a faculdade. está escrito numa folha algo como desenvolvimento de novos produtos para o mercado global, leio rápido para ele não me olhar lendo o que ele está lendo. talvez ele pense que estou colando e que