alma gentil que te partistes
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Este poema tem como tema principal a paixão do eu lírico para com a sua amada, que morreu jovem. Como sua amada se despediu para sempre, o tom do poema é envolvido por um ambiente amargo, triste, lúgubre.
Revela, também, a saudade que ele tem da sua amada. Nos versos, ele “conversa” com ela, achando que provavelmente ela o está ouvindo, e ele parece esperar tão breve reencontrá-la. Com a mesma brevidade de quando ela foi “levada” dele.
O poema é constituído por quatro estrofes, duas quadras e dois tercetos. As duas quadras apresentam rima interpolada (ABBA) e emparelhada e os dois tercetos, rima cruzada.
Analisando o poema, temos:
1ª estrofe – apresenta a situação. Revela que a amada já houvera falecido. Ele usa a palavra “partir”, eufemizando o termo “morrer”, e também salientando que partir não encerra a vida definitivamente, mas sim a passagem para um outro mundo no qual, futuramente, eles deverão encontrar-se (isso é nítido, principalmente, na última estrofe).
2ª estrofe – há um pedido à amada que não o esqueça, que não esqueça o amor que eles tiveram, incomparável e inigualável.
3ª estrofe – fala da dor que ele sentiu e exatamente como ele se sente após a sua morte. Ela é tão “parte” física e psicológica dele, que quando o deixa, ele também já não é “todo”.
4ª estrofe – aqui, como já dito anteriormente, ele mostra a intenção de também morrer logo, para que eles possam se encontrar. O modo de