Amor: entre a súplica e o agradecimento, duas visões diferentes para exprimir o mesmo sentimento.
Lizania Xavier da Silveira Através dos poemas “Quer’eu em maneira de provençal”, de D. Dinis e “Alma minha gentil, que te partiste”, de Luís Vaz de Camões – o primeiro pertencente à escola trovadoresca e o segundo à escola classicista – é possível perceber que, embora separados por aproximadamente três séculos, ambos possuem traços semelhantes, nos quais a figura feminina e a exaltação da relação de subserviência à mulher amada permanecem praticamente inalteradas e, no que tange aos aspectos divinos, a figura de Deus é uma constante em ambas as composições. No poema “Quer’eu em maneira de provençal”, o sujeito lírico masculino faz um cantar de amor para a sua amada – uma mulher idealizada – a qual é sublime e se destaca em meio às demais. Há uma divinização desta mulher, descrita por sua beleza e pureza de alma, um exemplar único criado por Deus. Pode verificar-se a correção destas afirmações através dos versos nos quais o poeta afirma “a que prez nen fremosura non fal, honra”(v.4) / "nem bondade, e mais vos direi em:”(v.5) / “que mais que todas las do mundo val.”(v.7) Por sua vez, o eu lírico do poema de Camões estabelece de uma maneira semelhante a mesma relação entre sua amada idealizada e a ligação divina. Como a mulher no poema de D. Dinis, ela não é apenas uma mulher perfeita, mas sim a razão de viver do sujeito lírico, pois sua vida deixa de fazer sentido no momento em que sua amada deixa de estar junto a ele. Cabe ressaltar que em ambas as poesias, os sujeitos poéticos possuem amadas divinizadas: em uma, o sujeito lírico expõe todos seus predicados, enquanto na outra – embora de forma um pouco mais sutil – também atribui uma total importância à mulher amada, a ponto de considerá-la imprescindível à sua própria existência. Ambas as musas são dádivas dos céus, e não apenas por suas belezas, mas, principalmente, pela pureza de seus espíritos. A diferença entre os