Agropecuária brasileira
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Journal of Inter-American Studies, 6 (1), janeiro 1964: 43-55.
Em um momento em que se discute, de forma intensa, a respeito da necessidade e dos meios de se executar um programa de reforma agrária no Brasil, torna-se importante analisar de uma forma ampla os principais problemas da agricultura brasileira e suas causas. A necessidade de uma reforma agrária e a extensão e profundidade que a mesma deverá ter dependerá do grau de inadequação da estrutura agrária do país. Quanto mais as deficiências estruturais constituírem-se em causa das dificuldades que hoje enfrenta a agricultura brasileira, maior será a necessidade da reforma agrária, e mais radical deverá ser ela. Neste artigo, limitar-nos-emos a discutir os principais problemas da agricultura brasileira – sua baixa produtividade, o uso distorcivo da terra, a existência de extensas áreas não aproveitadas, o desemprego, a produção insuficiente, o baixo nível de vida do homem do campo, a transferência para os intermediários de parte da renda que lhe é devida – e a relacionar tais problemas com suas causas de natureza econômica, técnica e estrutural.
Principais problemas da agricultura brasileira
Um primeiro e fundamental problema da agricultura brasileira é que sua produção não tem crescido na medida das necessidades do desenvolvimento econômico nacional e do correspondente aumento do consumo interno de produtos agrícolas, particularmente de gêneros alimentícios. Como é normal na fase de desenvolvimento em que o país se encontra, a taxa de desenvolvimento da indústria tem sido superior à da agricultura. Mas a diferença tem sido
excessiva. Enquanto a taxa média do crescimento da indústria, entre 1947 e 1961, foi de 9.6% ao ano, a taxa correspondente para a agricultura foi de 4.6%.1 A indústria, portanto, cresceu a um ritmo mais de duas vezes superior ao da agricultura. Como principal resultado desse desequilíbrio, verificou-se