Agorafobia
Agorafobia, espaço e subjetividade*
Carlos Alberto Pegolo da Gama
Mamoel Tosta Berlinck
ÁPORO
Um inseto cava
Cava sem alarme
Perfurando a terra
Sem achar escape.
Que fazer, exausto,
Em país bloqueado,
Enlace de noite,
Raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério) presto se desata: em verde, sozinha, antieuclidiana, uma orquídea forma-se.1
Introduzindo o espaço
Um bom caminho para começarmos o estudo da agorafobia é através da questão do espaço. Primeiro porque a agorafobia é reconhecida como uma fobia dos espaços em contraposição a uma fobia mais estruturada, com um objeto mais definido. O espaço, neste sentido, indicaria a existência de um objeto mais indefinido, etéreo ou aéreo. Segundo porque, na própria palavra "agorafobia" está a ágoraintroduzindo um espaço mais complexo, apontando para questões relativas ao espaço político, ao lugar ocupado por cada um a partir de sua opinião pessoal, de sua relação com o outro, de sua alteridade.
A introdução pelo espaço é interessante também porque permite ultrapassar uma dificuldade presente na maioria dos autores discorrendo sobre o quadro clínico, ou seja, definir qual é o medo em questão. Quando a agorafobia é descrita em 1872 pelo psiquiatra alemão Carl Westphal2, há o estabelecimento de um medo com relação aos espaços públicos, acentuando o caráter social desta fobia. Os pacientes não conseguem ficar sozinhos em grandes espaços abertos. Logo em seguida, Legrand Du Saulle, em 1878, questiona este medo específico de lugares públicos, argumentando que o medo é relativo às características e disposição do espaço. Propõe, então, a denominação "medo dos espaços". Segundo esse autor:
"Não posso adotar a expressão "agorafobia", da qual fazem uso principalmente os alemães, porque ela limita o transtorno psíquico ao medo de lugares públicos. Ora, as observações clínicas dos autores e as minhas próprias, estabelecem ao contrário, como veremos a seguir , que os doentes têm medo do espaço, do vazio, tanto