Afroasia
UMA REVISÁO DAS FONTES *
Pierre Verger
(Universidade Federal da Bahia)
Uma definição d o conceito do Deus supremo entre os iorubás não pode ser tentada sem uma referência de conjunto à religião iorubá.
Existe uma vasta literatura sobre o assunto; mas antes de aceitarmos as idéias e conclusões ali oferecidas, devemos investigar as circunstâncias e os preconceitos que influenciaram os autores que trataram da matéria.
Dispomos de três fontes principais de informações: antigos viajantes, missionários cristãos e antropólogos. Os relatos dos primeiros estão frequentemente enfeitados com elementos pitorescos destinados a divertir os leitores ávidos do exótico.
Os relatórios dos segundos refletem geralmente uma bem fundada fé cristã, uma austera moralidade e noções seguras do bem e do mal, tudo isto pesando duramente no seu conteúdo apesar do esforço para a compreensão do objetivo em vista.
Os informes dos terceiros dificilmente deixam claro que parte da informação obtida está isenta da influência dos missionários cristãos ou muçulmanos. Isto porque, na parte da África de que tratamos, o encontro das religiões animistas, como podemos também chamá-las, com o cristianismo, ocorreu ao tempo da chegada dos primeiros navegadores portugueses no século XV, no sudoeste, sob a bandeira do tráfico de escravos; enquanto que o encontro com o Islã ocorreu no lado oposto, sob a mesma bandeira, e muitas vezes sob o intolerante disfarce de guerra santa.
As circunstâncias em nenhum dos casos Foram favoráveis ao estabelecimento de um espírito de compreensão e respeito para as convicções religiosas das comunidades nativas. Onde o Islã estava interessado, a conversão era um dever sagrado, e para o traficante de escravos era mais satisfatório e digno de louvor proclamar que ele estava desempenhando uma tarefa piedosa, resgatando a alma dos negros dos abismos impenetráveis da idolatria. Os católicos acrescentaram que era seu dever ajudar os