SOMBRAS EM MOVIMENTO: OS ESCRAVOS E O QUEBRA-QUILOS EM CAMPINA GRANDE - Luciano Mendonça de Lima
OS ESCRAVOS E O QUEBRA-QUILOS
EM CAMPINA GRANDE
Luciano Mendonça de Lima*
N
os meses finais de 1874, diversas vilas e cidades das províncias da
Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte foram conflagradas por um conjunto de acontecimentos que ficou conhecido para a posteridade como a sedição do Quebra-Quilos. Onde quer que tenha eclodido, a ação dos revoltosos seguiu um padrão mais ou menos comum: grupos de homens e mulheres, constituídos por agricultores pobres, artesãos, feirantes e desocupados, entraram em confronto com forças policiais, destruíram pesos e medidas do sistema métrico-decimal recém implantado, se recusaram a pagar impostos, atacaram prédios onde funcionavam repartições públicas, tais como a câmara municipal, a cadeia, cartórios e a coletoria, e em seguida se dispersaram, não sem antes deixarem no ar um clima de apreensões difusas.1
*
1
Professor da Universidade Federal de Campina Grande e doutorando em História na Universidade Federal de Pernambuco. Este artigo é uma versão resumida de dissertação de Mestrado intitulada
“Derramando susto: os escravos e o Quebra-Quilos em Campina Grande”, Mestrado em História, UNICAMP, 2001. Agradeço a leitura atenta e as preciosas sugestões do parecerista de AfroÁsia.
A bibliografia sobre os Quebra-Quilos é relativamente extensa. Apesar da diferença de enfoque, foram poucos os que discutiram ou mesmo mencionaram a participação dos escravos. Ver, por exemplo, Armando Souto Maior, Quebra-Quilos: lutas sociais no outono do Império, Brasília/
INL; Recife/FJN, 1978; Geraldo Joffily, Quebra-Quilos: a revolta dos matutos contra os doutores, Brasília, Thessaurus, 1977; Hamilton de Mattos Monteiro, Revolta do Quebra-Quilos,
São Paulo, Ática, 1995.
Afro-Ásia, 31 (2004), 163-196
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Em Campina Grande, município localizado no interior da província da Paraíba e que se transformou no epicentro dos acontecimentos, o movimento se singularizou porque os