ADOLESCÊNCIA: UMA LEITURA PSICANALÍTICA
Neide Maria de M. F. Sotto-Mayor Barbosa*
Educar, ao lado de Governar e Psicanalisar, é uma profissão impossível.
Freud (1937)
Resumo: Pretende-se, neste artigo, uma reflexão sobre a adolescência tomando-se a psicanálise como um dos instrumentos de leitura nos movimentos discursivos de nossa época. Ao tomar a psicanálise como instrumento de leitura do tema adolescência depara-se, nas obras de Freud e Lacan, com as vicissitudes do eu que, historicamente descentrado pela psicanálise, ressurge ou como ego – readquirindo o lugar no centro da esfera imaginária – ou como barrado – onde é um dos temas da fantasia. E constata-se que o reservatório de egos, que foi, durante certo tempo, a proposta da psicanálise pós-freudiana, teve de ser desmascarado por Lacan para haver um retorno a Freud, permitindo o ser da psicanálise propriamente dita. A idéia surgiu, sobretudo, a partir da escuta de alguns adolescentes e, também, da observação e leitura de jornais e revistas, bem como do estudo de livros e textos avulsos de alguns psicanalistas que trabalham em suas clínicas, com adolescentes. Partindo de um tempo em que a adolescência passava confundida com a infância, e chegando a outro que afirma a singularidade de seu espaço, a adolescência é um constante questionar o que está proposto, em busca de uma resposta que satisfaça até o próximo desafio. Palavras-chave: Adolescência. Psicanálise. Ego. Eu. Sujeito.
Na atualidade estamos familiarizados com o termo adolescência para designar o período do ciclo vital que faz a intermediação da infância e da idade adulta assim como, todas as mudanças necessárias para alcançar tal momento do desenvolvimento. Contudo, podemos hoje pensar nisso como uma conquista histórica. Por meados do século XVI, a terminologia adotada para diferenciar as etapas do desenvolvimento era, conforme Levisky (1998), enfance, jeunesse e viellesse (infância,