Adalgisa Neri e as esquerdas
CAMPOI, Isabela Candeloro. Adalgisa Nery e as esquerdas: uma mulher no jornalismo político. In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão REIS. Nacionalismo e reformismo radical 1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007 . pp. 337 – 356.
Os artigos da escritora Adalgisa Nery nas páginas do jornal Última Hora eram carregados de metáforas, expressões irônicas e linguagem figurativa. Em 1958, referindo-se a Jânio Quadros. Os políticos da União Democrática Nacional (UDN) eram as “eduardinas”. Na renuncia de Jânio Quadros em 1961 e no subseqüente envolvimento político dos “vermes fardados, nos dias de baderna lacerdista”, a jornalista sugere providências: “que esses fracassados donos do Brasil sejam mandados para casa”. “A lei sofre de catarata”, denuncia a prática do empreguismo, o vulgarmente conhecido “pistolão”. O chefe da administração de portos, rios e canais da Guanabara em 1962 era na sua função “mais analfabetos do que gato vegetariano” (pág. 337).
As duras críticas eram disparadas aos representantes políticos, às instituições financeiras e aos setores da economia acusados de “entreguistas” (pág. 338).
Entender a trajetória da jornalista e os políticos com os quais Adalgisa Nery estabeleceu relações contribui para o entendimento de suas conexões com as forças de esquerda esboçadas no panorama político em que vivia. Herdeira da tradição política de Getúlio Vargas, Adalgisa Nery deu início à carreira jornalística alguns meses após o suicídio do presidente, em novembro de 1954 (pág. 338).
Samuel Wainer, diretor e dono do jornal Última Hora, fundado em 1951 com a finalidade de dar apoio ao presidente Vargas, mantinha Adalgisa Nery Fontes agora casada com Lourival Fontes, chefe do departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), no conselho diretor da revista Diretrizes. (pág.338)
[...] Assim, no contexto dos anos 1940, o relacionamento de Getúlio Vargas com o meio intelectual