Acerca do kula
O trabalho de Bronislaw Kaspar Malinowski (1884-1942), relatado na obra Argonautas do Pacífico Ocidental, tem como objeto uma pesquisa etnográfica relacionada com as populações costeiras das ilhas do sul do Pacífico, das quais se destaca a Nova Guiné. Na sua segunda expedição, de maio de 1915 a maio de 1916, Malinowski teve a oportunidade de, então, manter o primeiro contato com o Kula. O Kula, segundo Malinowski (1976), é uma forma de troca e tem caráter intertribal bastante amplo, é praticado por comunidades localizadas em um extenso círculo de ilhas, que formam um circuito fechado. Tomando-se esse princípio intertribal como uma forma de relacionamento entre povos, pode-se afirmar que seria o Kula o marco antropológico do que na civilização moderna denomina-se de relações internacionais. Aprofundando-se ainda mais no texto de Malinowski (1976), nota-se que o Kula é uma instituição enorme e extraordinariamente complexa, não só em extensão geográfica, mas também na multiplicidade de seus objetivos, envolvendo um grande número de tribos e um enorme conjunto de atividades inter-relacionadas e interdependentes de forma a constituir um todo orgânico. Deixando-se de lado o aspecto mitológico que reveste o Kula – embora as transações principais que nele se processam sejam públicas, cerimoniais e levadas a efeito sob regras bem definidas – Malinowski procura diferenciá-lo de um comércio primitivo, ou uma troca de objetos sem qualquer cerimônia e regulamentação, para caracterizá-lo como o alicerce de uma grande instituição intertribal associada a um sem-número de outras atividades. Malinowski, entretanto, faz questão de salientar que há uma outra atividade intimamente ligada ao Kula, que a denomina de “comércio secundário”. Seria então uma variação do Kula original, destinada à realização de viagens – em canoas construídas especificamente para essas ocasiões, e que caracterizava uma outra importante atividade – a terras longínquas,