Acadêmico
José Jobson de Andrade Arruda1
O grande mestre da Escola dos Annales, Marc Ferro, retoma, em livro recente, muitas de suas idéias já presentes em História das Colonizações,2 na qual rastreia a história do colonialismo moderno desde seus albores no século VII – o que é discutível –, até o século XX. O título, por si só, O livro negro do colonialismo,3 já sinaliza a intenção denuncista das práticas colonialistas, modelizadas, por certo, no espetaculoso O livro negro do comunismo,4 em cujo título se inspira. A diferença em relação ao seu texto anterior sobre o colonialismo é a busca de relacionamento entre o colonialismo e os totalitarismos do século XX, isto é, questiona-se se ‘seria o colonialismo uma forma de totalitarismo’. A idéia brota da mente de um historiador que, como ninguém, domina a história do século XX, sobretudo em sua vertente soviética, mas que deixa ao leitor não poucas inquietações a respeito da propriedade de tais relações. Se as práticas colonialistas do século XX, especialmente no período da Guerra Fria, podem ser mais facilmente conectadas aos totalitarismos – assim mesmo não poderiam incluir as práticas imperialistas das chamadas democracias liberais –, seria aceitável remetê-las ao colonialismo da era do imperialismo mercantilista? Ou mesmo do imperialismo da era do comércio livre? Mais problemático, ainda, é aceitar a definição de imperialismo multinacional, como algo identificado ao colonialismo sem colonos, uma espécie de herança do imperialismo norte-americano do século XIX, “quando nunca mandavam soldados”, ao contrário dos demais países colonialistas da época do neocolonialismo (Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Rússia) que faziam da ocupação militar sua forma primacial de dominação, como diz Ferro. Os Estados Unidos remeteram tropas, sim, a exemplo da ocupação dos territórios do Novo México; da invasão de Cuba na conflagração com a Espanha, que resultou na independência da