"Há vários pontos, inclusive éticos, a considerar, mas eu acredito que a fecundação marca o início da vida", afirma o especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi. A maioria das religiões apoia esse conceito. A geneticista da USP Lygia Pereira diz que a definição do novo genoma é "sem dúvida importantíssimo para o início da definição de vida", mas afirma que isso não significa que seja o ponto definitivo no conceito de vida. "Existem muito mais fatores", diz ela, que prefere não apontar um momento único. DEPOIS DA FECUNDAÇÃO Outro fator, por exemplo, é o início da gastrulação -processo de divisão que dá origem aos diferentes órgãos. Disso surge uma posição diferente da Cambiaghi, que diz ser necessário esperar até essa divisão começar para determinar o início da vida. A gastrulação começa quando o zigoto, que a partir desse ponto é chamado de embrião, instala-se no útero. Boa parte dos abortos espontâneos acontece ainda nesse estágio e a mulher sequer percebe a gravidez. Um terceiro fator considerado é a atividade neuronal. Como a morte cerebral é interpretada como fim da vida humana, por simetria, o começo da atividade cerebral marcaria o seu princípio. Essa é a opinião da embriologista da USP Irene Yan. "Como indivíduo, o ser humano começa com o desenvolvimento da atividade cerebral", afirmou ela. Boa parte dos cientistas considera que isso ocorre após o primeiro trimestre de gravidez, mas há divergência sobre o momento exato. Para Yan, o critério de vida precisa ser adaptado em cada espécie. "Ouriços do mar, por exemplo, não têm cérebro. Precisamos, então, encontrar outros critérios que determinem a formação de nova vida para essa espécie." Bem menos difundida, mas também presente, é a abordagem ecológica, uma quarta linha de pensamento. Para ela, a vida começa quando o feto já é capaz de sobreviver fora do útero, o que aconteceria normalmente no sétimo mês de gestação. Com o avanço da medicina, no entanto, esse critério fica mais difuso, pois há casos