Abordagens do Livro a Escola que Sempre Sonhei
Rubem Alves
Quero uma escola retógrada...; Escola da Ponte -
1; Escola da Ponte - 2 Escola da
Ponte - 3 Escola da Ponte - 4 Escola da Ponte -
5
Quero uma escola retrógrada...
Aforismo que repito sempre: "Numa terra de fugitivo s aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo." O poeta T. S. Elio t, que o escreveu, pôs o fugitivo no singular: um ser solitário. E era assim que eu semp re me sentia, andando sozinho na direção contrária. Mas, repentinamente, descobri um outro "fugitivo", um velho de longas barbas e que fumava um charuto fedorento. Nã o gosto de cheiro de charutos.
Mas gosto de companhia. Aproximei-me dele e o recon heci. O nome dele era Karl
Marx. Fiquei espantado porque sempre pensei que ele se encontrava no meio da multidão dos que andam para a frente, os modernos, economistas, cientistas - pois foi isso que sempre disseram dele os que se diziam seus intérpretes. De fato, as roupas que ele usava eram modernas, feitas de tecido fabricado naquelas tecelagens (que ele odiava) onde trabalhavam mulheres e crianças 16 hor as por dia, para enriquecer os donos. Evidentemente faltava-lhe tempo e habilidade para fazer o que fazia aquele outro retrógrado chamado Gandhi, que tecia seus próprios tecidos num tear doméstico que ele afirmava ter poderes terapêuticos e sapienciais. Pe rcebi que ele era moderno por fora mas o seu coração era retrógrado; andava para trás.
Como o meu.
Psicanalista, presto atenção nos detalhes, os lapsu s, e foi assim que descobri esse segredo que ninguém mais sabia: um pequeno texto...
Ele dizia nesse texto que o operário, ao ver o objeto que produzira, tinha de v er o seu próprio rosto refletido nele.
Cada objeto tem de ser um espelho, tem de ter a car a daquele que o produziu. Quando o operário vê seu rosto refletido no objeto que ele p roduziu ele sorri feliz. O trabalho, com todo o seu sofrimento, valeu a pena: foi dor de par to. Agora, meu leitor, lhe