abandono de crianças
Introdução
Os pequenos enjeitados
A rejeição, o infanticídio e a prática do abandono de crianças recém-nascidas pelas mães já eram uma realidade social na cidade de São Paulo no período dos anos oitocentos...
Acostumamo-nos a presenciar notícias horríveis nos noticiários televisivos - ou na grande imprensa - sobre crianças sendo abandonadas pelas ruas; cadáveres de recém-nascidos encontrados em sacos plásticos dentro de lixeiras; ou boiando em lagos e rios das cidades brasileiras. O que leva a essa tendência à rejeição e ao desamor das mulheres, que resulta em abandono de sua prole?
Dá-se a impressão de que este seja um problema social da modernidade, de que os valores familiares e o amor maternal se perderam no tempo. Entretanto, a questão da infância abandonada no Brasil é histórica - e remete ao período colonial, onde os filhos bastardos eram abandonados, enchendo os orfanatos das Igrejas; ou se tivessem sorte, terminavam acolhidos por parentes como afilhados - ou adotados pelas famílias como crianças expostas.
Infância marcada
Um exemplo peculiar foi que ocorreu na cidade de São Paulo no início do séc. XIX, onde as taxas de crianças abandonadas eram preocupantes. Os relatos daquela época mencionavam o horripilante cotidiano dos transeuntes que encontravam pelas ruas, terrenos baldios ou monturos de lixo, cadáveres de recém-nascidos devorados por porcos ou cães. Tais atitudes escandalizavam a moralidade das autoridades políticas e religiosas.
Até no final do século XVIII, era comum na sociedade colonial o costume de adotar crianças órfãs ou enjeitadas - tanto as famílias humildes quanto as ricas. Essas crianças adotadas eram inseridas dentro do ambiente patriarcal, onde os laços de dependência e obediência eram muito fortes. No caso das famílias ricas, muitas eram afilhadas do senhor da Casa-Grande através da prática do compadrio e, ao se tornarem adultos, convertiam-se em seus agregados. A convivência entre os