500 anos de lutas socias
Maria da Glória Gohn
1. MOVIMENTOS SOCIAIS: O CONCEITO
Apesar do número razoável de estudos específicos sobre a problemática dos movimentos sociais, não podemos afirmar que existam teorias bastante elaboradas a seu respeito. Parte dessa lacuna é dada pela multiplicidade de interpretações e enfoques sobre o que são movimentos sociais. Um conjunto díspar de fenômenos sociais tem sido denominado como movimentos sociais. Na tentativa de clarificar a questão criaram-se novas taxinomias ou tipologias empíricas sem fundamentação teórica.
No cenário do mundo globalizado, vários autores têm destacado que o conflito social mudou, no mundo moderno , da esfera da produção para a esfera dos problemas da cultura, e nesta, os problemas de identidade cultural seriam os mais importantes, gerando movimentos em torno das questões de raça, gênero, nacionalidade etc. Outros, como o ex-líder estudantil francês e atual parlamentar do Partido Verde, Daruel
Cohn-Bendit, reconhecem a importância dos conflitos culturais, mas atribuem uma determinação econômica àqueles conflitos. Resulta que temos doi s " modelos" de análise: um culturalista (enfatizando os movimentos sociais), e outro classista (enfatizando mais as estruturas econômicas, as classes sociais, as contradições sociais e os conflitos de classes). Defendemos uma terceira posição, que destaca a importância da cultura na construção da identidade de um movimento social, mas concebe os movimentos segundo um cenário pontuado por lutas, conflitos e contradições, cuja origem está nos problemas da sociedade dividida em classes, com interesses, visões, valores, ideologias e projetos de vida diferenciados. Entendemos que a análise sobre os movimentos sociais não pode ser separada da análise de classe social, mas também não podemos resumir os movimentos a algo determinado pelas classes.
Rev. Mediações, Londrina, v. 5, n. 1, p.