1º de Abril

E do nada, algo acordou dentro dela e lhe fez enxergar algumas verdades que insistia em não aceitar.
Levantou, foi até o espelho e viu que ali, refletida, não era ela. Ali, estava a garota que desejava ser popular, que fazia o que os outros queriam e nunca seguia seu coração. A imagem refletida naquele espelho era uma ilusão, um produto montado e criado para agradar aos outros. Os cabelos antes castanho-claro, agora eram de um loiro quase branco; os olhos pretos estavam "vestidos" por uma lente que os deixavam verdes... Deu uma olhada geral em seu corpo e viu que mais parecia uma de suas antigas Barbie.
Saiu de frente do espelho com o estômago revirando e nojo da imagem que olhara: tinha, definitivamente, se tornado o que os outros queriam e o que repugnava.
Foi até a cozinha, fritou um ovo e enquanto comia, as imagens giravam em sua mente e ela foi lembrando, pouco a pouco, coisas que, até a noite anterior, desejava esquecer. Foi lembrando quem era e porque mudara: uma menina cheia de ideais que se magoou demais e resolveu fingir ser outra pessoa... E naquele momento, ela levantou, foi novamente ao espelho e percebeu que não era mais a menina de ideais ou a garota popular; era uma mulher. Uma mulher com 28 anos recém-completados e uma bagagem de erros considerável.
Deixou de lado o espelho e se dirigiu ao guarda-roupa, porém quando o abriu viu que nenhuma roupa lhe cabia, não em questão de tamanho, mas como a pessoa que era ou voltara a ser. Então, pegou uma caixa e tirou das gavetas tudo o que trazia más lembranças, que lhe magoava e lhe lembrava a ilusão... Deixou apenas os shorts e as camisetas.
Pegou a caixa e levou até uma instituição para mulheres. Depois que voltou para casa, percebeu que ainda estava com as lentes verdes, a tirou e jogou no lixo, olhou em volta e percebeu que ainda tinham muitas coisas para serem tiradas e jogadas ao lixo. Vestiu o pijama, pegou algumas caixas e foi tirando tudo o lhe fazia mal e lhe mascarava...
E foi assim que