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Já ouviu falar que vivemos em tempos líquidos? Pois bem, essa é uma possibilidade de explicar a transição dos tempos idos em relação ao nosso tempo. Tempos idos são caracterizados como sólidos, lugar de relações sólidas, famílias sólidas, projetos de educação, política, economia sólidos. Em suma: valores sólidos. Nosso tempo transformou o que era sólido em líquido.
Diante dessa masmorra transacional de valores orientadores das relações humanas, percebe-se que o problema não está na mutação do sólido para o líquido, mas sim do líquido para o descartável. O liquido não tem forma, se espalha…se perde, escorre entre os dedos…evapora!
Observe que, valores fundamentais como respeito, paz, intersubjetividade, entreajuda, solidariedade, foram esquecidos! São apenas lembrados em momentos de tragédias e, logo passam. Logo deixam de ser eficientes. A eficiência está presa à utilidade. Negócio da hora! Marketing, propaganda ou publicidade! Valor é interesse…interesse é jogo de poder.
Houve, porém, o descarte do óbvio. O óbvio é ter valor. Descarta-se o valor do óbvio, o valor daquilo que tem valor. Do homem, o valor do humano – está descartado! Descarta-se a sensibilidade do artista, vendida, transformada em mercadoria…descarta-se a liberdade, e com ela a dignidade do ser livre…descarta-se a vontade humana de viver, e no lugar dela, o interesse solícito e frenético de viver bem – diferente que viver o bem!
O óbvio sofre por ser esquecido. Com ele, sofre o homem. O homem esquece o óbvio, esquecendo de si, da relação com outro, com o mundo, com o óbvio. Esquece…simplesmente, esquece.
O óbvio é aquilo que é dado em linhagem natural ao humano, lhe resta o livre-arbítrio para indicar a transcendência do óbvio ou o regresso à condição natural do animal humano. O óbvio seria transcender a condição natural, buscar a humanidade, fazer-se homem. O que vemos? O descarte do óbvio!
O óbvio se torna o descarte. Os entusiastas chamam isso de