É triste nao ser branco

11479 palavras 46 páginas
As reflexes sobre a identidade barretiana pecam por considerar como ponto de partida analtico a crena do escritor em sua pretensa aptido ao desempenho do ofcio literrio. nesse sentido que entendemos que o escritor Lima Barreto, espcie de figura acabada, lanou uma sombra sobre o homem Afonso Henriques de Lima Barreto prejudicando por essa disposio a compreenso plena do autor e, por conseguinte, de sua obra. A perspectiva antropolgica, no entanto, nos convida a fazer o caminho inverso, ou seja, compreender a produo literria de Lima Barreto a partir de sua experincia social o que implica em reconstruir sua trajetria afim de explicitar os aspectos que determinaram a emergncia de sua vocao fugindo, assim, ao princpio de erro sistmico que Bourdieu denominou como a iluso biogrfica. Assumir que Lima Barreto ambicionava ser reconhecido pelo valor de sua produo literria e tomar como ponto de partida essa crena na qualidade de seu trabalho demonstra-se um grande armadilha quando se tem em mente que o autor estava em profundo desacordo com os mecanismos de ascenso disponveis no campo literrio de seu tempo sem considerar-se, no entanto, fora desse campo de tal forma que fora por trs vezes candidato a Academia Brasileira de Letras instituio capaz de consagra-lo, mas que, no entanto , apenas lhe concedeu uma meno honrosa. Deste modo necessrio buscar as razes de seu investimento no jogo em outra ordem de motivaes que no apenas a do reconhecimento de seu trabalho por seus pares razes essas que lhe permitiram conviver com o fato de ver ser constantemente questionado o valor de seu empreendimento sem, entretanto, abandona-lo. Acreditar-se vocacionado a realizao de um ofcio estar convencido de possuir as disposies necessrias ao desenvolvimento do empreendimento definido pelos fundamentos que o caracterizam to somente depois de estarmos imbudos dessa crena que se torna possvel uma entrega completa ao seu exerccio, o que implica em ter condies de assumir os

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