Ética e nanotecnologia
NANOTECNOLOGIAS
Jean-Pierre Dupuy
I. Nanoética Há alguns anos trabalho como filósofo com a ética das nanotecnologias – a “nanoética”, como é chamada agora – ou, mais precisamente, com a ética da denominada “convergência NBIC”, que é a convergência entre nano, bio, info-tecnologias e ciências cognitivas. Gostaria, inicialmente, de defender o ponto de vista segundo o qual a convergência NBIC e as nanotecnologias, em particular, suscitam questões éticas originais, o que foi fortemente negado. Por exemplo, Philip Ball, escritor científico da Nature, escreveu, em um ensaio intitulado “2003: nanotecnologia na linha de fogo”:1 Em março [2003], a Royal Society de Londres acolheu um seminário de um dia sobre as nanotecnologias, intitulado “Átomo por átomo”, que, particularmente, considerei útil, pois permitiu entender um grande espectro de opiniões sobre o que é agora conhecido pelo nome de nanoética. [...] Inicialmente, apareceu uma crença, fundada na idéia de que aquilo que é qualitativamente novo nas nanotecnologias é que elas permitem, pela primeira vez, a
*Originalmente publicado em francês no periódico Les Cahiers du MURS N° 47, 2006. Agradecemos ao professor Jean-Pierre Dupuy e ao editor JeanPierre Alix pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. http://www.nanotechweb.org/articles/society/2/12/1/1 jpdupuy@stanford.edu
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manipulação da matéria em escala atômica. Suponho que esse ponto de vista é comumente partilhado e, se for esse o caso, deve nos levar a perguntar: como é possível que vivamos em uma sociedade na qual não se vê que é precisamente isso que a química faz, de modo racional e informado, há dois séculos ou até mais? Como pudemos deixar uma tal ignorância se instalar? Torna-se cada vez mais claro que o debate a propósito da extensão das possibilidades últimas oferecidas pelas nanotecnologias leva a questões sobre os próprios fundamentos da química. O vazio de conhecimentos no qual a maior parte do debate