O VALOR NEGATIVO DA DEMOCRACIA
A ideia de democracia assenta em dois pilares fundamentais: um valor positivo – a representação política do povo, e um valor negativo – a substituição pacífica dos governantes. Tenho para mim, desde há muito, que as democracias ocidentais perderam o sentido positivo do sufrágio universal, que vale agora somente pela sua dimensão negativa, o que, diga-se, já não é nada mau. Mas, na verdade, a ideia do «governo do povo, pelo povo, para o povo», se alguma vez existiu, hoje perde-se completamente nas falsas promessas eleitorais, na ausência de controles efectivos da governação, na submissão das assembleias parlamentares aos directórios partidários, enfim, na lógica do poder pelo poder, provavelmente a sua verdadeira natureza, independentemente das roupagens que vista. Resta, assim, a possibilidade de ciclicamente submetermos os políticos à censura do voto, castigando-os ou recompensando-os com o poder que todos querem conquistar e manter. Para um eleitor médio, numa primeira análise, o sentido de voto é orientado por consideraçãoes sobre o governo em exercício: esteve bem, esteve mal, faltou excessiva ou moderadamente aos seus compromissos eleitorais, abusou ou não do poder que lhe foi dado. Numa segunda apreciação, são também avaliados os partidos que não fazem parte do governo, mas que têm fortes possibilidades de, pelo nosso voto, o conquistarem. Aqui cabe, sobretudo, avaliar se estes partidos merecem a nossa confiança e o nosso voto, no sentido de tentarmos antever se eles, pelo menos, não nos irão desiludir tanto quanto o governo daqueles que estão ainda em funções. Esta valoração que os cidadãos eleitores devem fazer para decidirem o sentido do seu voto, deve utilizar o máximo senso crítico em relação aos políticos e aos partidos – a todos, sem excepção -, já que a actividade que eles desenvolvem recai sobre nós e nos poderá afectar gravemente, como aliás se tem visto. Para além do mais, é suportada e sustentada com o