O URBANISMO NO RECIFE: ENTRE IDÉIAS E REPRESENTAÇÕES
ENTRE IDÉIAS E REPRESENTAÇÕES
VIRGÍNIA PONTUAL
R E S U M O A pretensão é polemizar sobre o entendimento de modernização como processo cumulativo e complementar de idéias e afirmar o de atualização e diferenciação das regras e preceitos urbanísticos, de modo a assegurar o ordenamento citadino, assim como discutir a permanência dessas regras na atualidade; ou melhor, o paradoxo entre continuar afirmando o saber urbanístico, fundado nas teorias da modernidade, e prescindir desse saber, dada a inexistência de um outro modo de promover o ordenamento e o controle da cidade. O caminho adotado foi o de reconstituir as idéias dos urbanistas, objetivadas nos planos urbanísticos elaborados nos anos 30 e 50 no Recife. Nos anos 30, os planos urbanísticos introduziram, principalmente, os preceitos dos Ciams, cujos autores foram Domingos Ferreira (1927), Nestor de Figueiredo
(1932), Atílio Corrêa Lima (1936) e Ulhôa Cintra (1943). Nos anos 50, as idéias propugnadas traduziram, entre outros, os preceitos do Movimento de Economia e Humanismo, apresentados no estudo de Lebret (1954) e nas diretizes de Baltar (1951). A escrita de tal narrativa compara esses planos explicitando as diferentes concepções e representações do Recife e coloca em discussão a permanência desses saberes em relação à emergência de outros na atualidade.
P A L A V R A S - C H A V E História; modernização; saber; urbanismo; representações.
INTRODUÇÃO
A gênese da modernização da cidade do Recife remonta ao século XIX, porém não se constituiu num processo em que sucessivamente foram elaboradas representações e realizadas intervenções modificadoras na fisionomia da cidade. Como bem mostrou Moreira (1994), a modernização do Recife teve origem no governo do conde da Boa Vista
(meados do século XIX). O segundo período modernizador ocorreu entre 1909 e 1913, com um extenso programa de planos e obras: Plano de Saneamento do Recife; reforma completa do Bairro do Recife;