o totalitarismo
O CONCEITO E OS MORTOS
Ricardo Luiz de Souza*
RESUMO
O objetivo deste artigo é estudar o conceito de totalitarismo elaborado por Arendt, definindo a especificidade tanto política quanto histórica do conceito na perspectiva da autora. Trata-se, na obra de Arendt, de um conceito construído a partir de uma ideologia conservadora adotada pela autora, que vê, nas massas, um agente político disperso e nocivo. A análise arendtiana transforma a figura de Eichmann em símbolo do totalitarismo e do mal: um mal terrível por suas consequências e terrível pela banalidade com que é exercido.
PALAVRAS-CHAVE: Modernidade. Poder. Política.
I
Tomarei como ponto de partida uma questão de fundamental importância: o que, na perspectiva arendtiana, torna específico o totalitarismo? Basicamente, sua idéia de domínio, definido pela autora como “a dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida” (Arendt, 1989, p. 375).
Com isto, “a diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas
* Professor do Centro Universitário de Sete Lagoas (Unifemm). Doutor em História pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: riclsouza@uol.com.br.
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perfeitamente obedientes” (Arendt, 1989, p. 26). E uma outra diferença essencial deve ser mencionada: enquanto os antigos regimes autoritários contentavam-se em exibir seu poder e em controlar a vida exterior dos governados, a burocracia totalitária estende sua interferência à vida interior dos mesmos.
Como resultado dessa radical eficiência, extinguiu-se a espontaneidade dos povos sob o domínio totalitário juntamente com as