o surgimento do povo brasileiro
O processo de formação dos povos americanos tem especificidades que desafiam a explicação. Os povos transplantados, cuja identidade étnica já veio perfeitamente definida da Europa, encontram em sua própria configuração facilidades de incorporar-se a uma nova civilização surgida no seio de suas matrizes. Outra argüição posta pela história é sobre a causa da uniformidade lingüística dos povos americanos.
Tanto no norte como no sul, as línguas que se falam em imensos territórios, por milhões de pessoas, são as mesmas - o inglês, o espanhol, o português -, que nem apresentam dialetos. Como nada disso ocorreu em nenhum outro lugar da terra, cumpre indagar como se deu aqui.
O nome Brazil geralmente identificado com o pau-de-tinta é na verdade muito mais antigo. Os mapas mais antigos da costa já a registram como "brasileira" e os filhos da terra foram, também, desde logo chamados "brasileiros". Entretanto, o uso do nome como gentílico, que um povo atribua a si mesmo, só surgiria muito depois.
A consciência plena dessa oposição só seria alcançada muito mais tarde, mas a percepção dos antagonismos e diferenças se dá desde as primeiras décadas.
É bem provável que o brasileiro comece a surgir e a reconhecer-se a si próprio mais pela percepção de estranheza que provocava no lusitano, do que por sua identificação como membro das comunidades socioculturais novas, porventura também porque desejoso de remarcar sua diferença e superioridade frente aos indígenas.
O primeiro brasileiro consciente de si foi, talvez, o mameluco, esse brasilíndio mestiço na carne e no espírito, que não podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos - que ele desprezava -, nem com os europeus - que o desprezavam -, e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos luso-nativos, via-se condenado à pretensão de ser o que não era nem existia: o brasileiro.
O Brasil é a realização derradeira e penosa dessas gentes tupis, chegadas