Subiu correndo a escadaria do prédio. O elevador havia quebrado e estava na reta final do conserto há dois anos. Abriu as cinco trancas do apartamento e entrou. Tranca tudo e se joga no sofá. Tira o sapato e estende os pés para cima. Sua cabeça lateja, foi um dia penoso pensou ela. Ficara inconformada com Alice por ter chegado chapada ao ensaio do novo conto de fadas que dirigia, onde Alice era a protagonista. “Acho que eu não deveria ter a empurrado na escada”, pensou em voz alta. A queda havia a deixado em coma e Jorgina ainda não sabia como iria substituir “tamanho talento” uma vez que a peça estrearia em uma semana. - Querida, cheguei! Informou o alcoólatra do seu marido com uma garrafa de Red Label na mão. - Que tal um beijinho no seu príncipe hein? Já pensara inúmeras vezes em pedir divórcio, porém, se preocupava com os pequeninos. “Talvez se eles sofressem um pequeno acidente...” pensou horrorizada consigo mesma. - Sai pra lá Everaldo. Falou esquivando-se de uma tentativa de beijo do esposo. Já havia tempos que tinha se arrependido de ter casado com tamanha desgraça. “Casa com ele, eles disseram”, “É um bom príncipe eles disseram”, “É muito rico, eles DISSERAM”. Havia se enganado. O fanfarrão havia perdido tudo nos cassinos de Monte Carlo, onde o crupiê, aproveitando da ingenuidade do garoto, roubava a “rodos” a fortuna secular da família monarca de Everaldo. Falido, teve de hipotecar o castelo para liquidar as dívidas. Foi nessa época que começou a beber e conheceu Jorgina. Os dois haviam pegado o mesmo copo de vodka no mesmo instante. Foi amor à primeira vista. Porém, anos de briga e desentendimentos haviam por ter destruído o casamento. Levantou-se do sofá e caminhou, tentando fazer o mínimo de barulho, até o quarto dos filhos. Olhou para eles com o afeto e carinho que só uma mãe sente por seus pequenos. Uma lágrima de emoção brotou no canto de seu olho. Uma leve chuva começava a cair. Caminhou até a janela e fixou o olhar para o céu. Ainda