O ser Politico
Nascer é um ato político. É o primeiro gesto de curiosidade e de autonomia frente ao mundo pré-estabelecido em que chegamos.
Não me refiro ao nascimento biológico, mas a esse momento em que, em sua relação com a comunidade, o ser, saído do ventre de uma mulher, começa a humanizar-se, a socializar-se, a criar vínculos que constituem seus desejos, suas práticas, suas idéias e crenças, seus projetos individuais e coletivos. Assume-se como ser humano quando se reconhece na comunidade que o recebe, e nela compartilha e cria identidade, linguagem, usos e costumes, cultura.
É na vida cotidiana onde se produzem os gestos políticos que organizam essas relações. Serão experiências de subordinação ou de liberdade, de competição ou de cooperação, de domesticação ou de rebeldia. Não será o mesmo socializar-se como mulher do que como homem, como heterossexual ou como travesti, lésbica ou homossexual, como branco ou como negro ou indígena.
Cada identidade assumida no processo de nascer como pessoa é um ato político, sejamos ou não conscientes dessa dimensão fundante de nossa subjetividade. Estejamos ou não claros do momento que Bertold Brecht chamou de “alfabetização política”.
Os movimentos populares criaram e recriam modalidades de diálogo, de ação, de práticas, que abarcam as relações interpessoais, grupais e de cada movimento com outros espaços da sociedade. As maneiras em que elas se estabelecem, antecipam o mundo que se está sonhando criar. Se a corrupção e o autoritarismo, a violência e a intolerância, são consistentes com as políticas hegemônicas do capital.
“Deixe-me dizer-lhe, a risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro está guiado por grandes sentimentos de amor”, escreveu Che em 1965. Talvez, desse encontro do amor e a política, nasçam novos homens e mulheres... que tenham maior capacidade subversiva frente às opressões, uma curiosidade sem limites no conhecimento, uma indignação mais sincera frente a cada