o sentido social e o contexto politico da guerra de canudos
Contexto Político da
Guerra de Canudos
Prof. Dr. Luiz Alberto Moniz Bandeira
Doutor em Ciência Política, professor titular aposentado de História da Política Exterior do Brasil da Universidade de Brasília e professor visitante em Universidades de
Heidelberg e Colônia, Alemanha.
Em memória de Edmundo Moniz
Introdução
As tensões sociais, que a estagnação econômica gerava e a adversidade da natureza - clima e solo - engravescia, acumularam-se durante três séculos de colonização, nos sertões da Bahia, como em todo o nordeste do Brasil. De um lado, poucas famílias ricas e poderosas, dominavam uma vastidão de terras,
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latifúndios improdutivos, e se digladiavam entre si, a disputarem o poder político, por modo a assegurar e expandir suas propriedades. De outro, uma população de caboclos, sertanejos, na sua maioria índios mestiçados com brancos ou negros mamelucos e cafuzos - que perderam ou jamais possuíram alguma terra e nada tinham, nem mesmo a possibilidade de vender sua força de trabalho e a esperança de alcançar uma vida melhor. A alguns não restava senão o descaminho do cangaço, fora da lei, se lei havia, e bandoleiros se tornavam.
Outros, para sobreviverem, passavam a servir como jagunços, capangas dos senhores de terra, os coronéis, assim denominados porque recebiam do governo imperial a patente da Guarda Nacional, com a faculdade de organizar batalhões, quando necessário, para defender a ordem e o Estado.
Em tais condições de atraso social e político, aquela massa de oprimidos, pobres e miseráveis, quase completamente isolada dos centros urbanos do litoral, devido à carência de transportes e de outros meios de comunicação, só encontrava esperança na religião, através da fé no “Bom Jesus”, que pelos menos lhe abriria as portas do céu, a perspectiva de salvação e recompensa por tantos sofrimentos. A religião, naqueles sertões do Nordeste, podia ser, como no conceito de Karl Marx, a “expressão da miséria