Historia de Canudos: um evento e várias interpretações
História de Canudos: Um só Evento, Várias Interpretações.
Maria Fabiana das Graças de Lima Carneiro.
Interrogando o passado com questões ligadas ao presente, a história de Canudos vem sendo reescrita e debatida a cada geração, mudando com o tempo os paradigmas e as categorias explicativas.
José Maria de Oliveira Silva
Os paradigmas históricos adotados na transição do século XIX para o XX, tendiam para o positivismo que refletia sobre os tempos do triunfo da modernidade, do capitalismo, da indústria, da ciência e da tecnologia.
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A busca de uma identidade coletiva para o país foi tarefa designada aos
intelectuais da Primeira República (1889-1930) com a finalidade de construir bases para a construção da nação. O Brasil precisava civilizar-se e tudo que fosse considerado empecilho para a realização dos “megas-projetos” concentrados na civilização, deveria ser eliminado para que a Belle
Époque brasileira fosse também realizada. Os acontecimentos ocorridos em Canudos, em 1897, durante o governo de Prudente de Morais, constituem um dos grandes paradoxos da história brasileira. Enquanto em Minas Gerais o paradigma da modernidade se expressava na inauguração de
Belo Horizonte, nova capital do Estado, Canudos – arraial nordestino fundado por Antônio
Conselheiro – era destruída, pelo Exército Republicano, de forma bárbara e cruel. Foi através das narrativas de Euclides da Cunha e das fotografias de Flávio de Barros que o Brasil, principalmente o litorâneo, acompanhou a tragédia assim descrita pelo jornalista, em Os Sertões:
A travessia para o Juazeiro fez-se a marchas forçadas, em quatro dias. E quando lá chegou o bando dos expedicionários, fardas em trapos, feridos, estropiados, combalidos, davam à imagem da derrota. Parecia que lhes vinham em cima, nos rastros, os jagunços. A população alarmou-se, reatando o êxodo. Ficaram de fogos acesos