A Prosa de Audálio Dantas
Audálio Dantas narra sob um ponto de vista privilegiado a história do sequestro e morte de Vladimir Herzog em seu mais novo livro, expondo fatos sob todos os ângulos, apresentando os personagens envolvidos, as manifestações e desdobramentos que envolveram o assassinato do jornalista nas dependências do Doi-Codi, em São Paulo, em outubro de 1975. Eram tempos de força bruta contra réus não julgados, sadismo voraz que não poupava nem altas patentes de ameaças descabidas. Época de “fardas contra palavras” e da busca da justiça inalcançável. Tensão e medo conviviam na mesma proporção com a certeza de que a redemocratização somente seria um êxito com a luta passiva, porém firme e constante, o que viria a demorar ainda dez anos. O Jornalista expandiu a luta de um sindicato para o campo social antes mesmo de Lula e os metalúrgicos do ABC Paulista. Em 1975, quando presidiu o sindicato da nossa categoria, já teve a surpresa de enfrentar o assassinato de Herzog. Dantas tomou posição, se juntou às massas e daí para frente seguiu engajado na luta pela liberdade de expressão e dos direitos humanos. Ele conseguiu controlar ânimos alterados pela época, sensibilizar aliados de peso em torno de objetivos construtivos e potencializar a solidariedade nascente, combustível o qual fortaleceu a luta contra o regime, resgatou exilados e acalmou exaltados. Dantas não é apenas um simples jornalista, com seu simples trabalho social. Ele foi adiante na sua função e desbravou terras desconhecidas e proibidas na época da ditadura militar brasileira. O atual governando General Geisel encontrou em Dantas o começo do fim de seu mandato de tirania. O passado não foi exorcizado, seus defeitos ainda seguem na linha tênue de tempo. Espero que a prosa de Dantas sirva de pedestal para a verdade que nossos governos devem, há tempos, para a população.
Glaucia Rodrigues