O sagrado em novos itinerários
Introdução
Neste final de século testemunhamos a dissolução de substanciais narrativas e utopias que guarneciam de sentido a vida de inúmeras pessoas. Esta nova situação não ocorreu sem balançar as estruturas de plausibilidade que forneciam suporte social para o que as pessoas achavam dignas de fé, para a sustentação de seu mundo social. Uma crise se instaura quando o plano de ação relacionado ao projeto visado perde sua plausibilidade, pois é no projeto que nossa vontade intervém na história.
O povo derruba os muros (1)
Com a vitalidade das grandes utopias, os indivíduos podiam situar suas próprias ações num quadro amplo de significados e angariar forças para enfrentar os novos desafios.
A perda dos referencias de sentido deixou os indivíduos desprotegidos diante de ameaças globais cada vez mais intensificadas: a crise ecológica, o desemprego, o empobrecimento generalizado, os conflitos diversificados, acompanhados de intolerâncias, xenofobismos e fundamentalismos. De forma ainda mais decisiva e profunda, encontramos a crise de sentido da vida, que atua sobre a geração nascida nos anos 60, que viveu de forma mais vigorosa as contradições de nosso tempo. Comentando a propósito desta geração, Umberto Eco sublinhou a dimensão das dificuldades enfrentadas: “Tenho à minha volta pessoas que, entre trinta e quarenta anos, estão na iminência de desmoronar. Nada do que empreenderam pode dar sentido à sua vida. Não têm mais uma razão superior, comunitária, que os mantenha acima do vazio. A crise é terrível.”2[1] Mas curiosamente, diante dos horizontes embaçados, despontam novas possibilidades de solidariedade e a irrupção de um “otimismo fundado sobre a confiança na comunidade humana”3[2].
É no contexto da crise das grandes narrativas e das vicissitudes das teorias secularizadoras que encontramos a chave para compreender a retomada do interesse religioso em nosso tempo. Com a crise da modernidade diluíram-se igualmente