O REI DA VELA
O Rei da Vela é um dos principais textos dramatúrgicos do escritor Oswald de Andrade, ícone do Movimento Modernista, desencadeado em 1922 na cidade de São Paulo. Ela foi criada pelo autor em 1933 e lançada apenas em 1937. Levada aos palcos, esta peça é encenada em 3 atos.
Foram necessários 30 anos para que O Rei da Vela fosse finalmente representado em terras paulistas. A façanha coube ao Grupo Oficina, sob a batuta do diretor José Celso Martinez Correa. Com certeza sua passagem pelos palcos foi um marco na história do teatro brasileiro.
Nesta história satírica, os eternos amantes medievais, Abelardo e Heloísa, são retomados para compor um irônico painel da hipocrisia burguesa e dos vícios da classe rural decadente. Abelardo I é sarcasticamente conhecido como o ‘Rei da Vela’ por ser produtor e comerciante de velas.
Ele é um símbolo dos arrivistas sociais que se aproveitam de crises, como a da Bolsa de Valores de Nova Iorque, de 1929, quando os produtores de café perderam tudo, para ascender na hierarquia socialmente imposta. Especulador, o novo empresário explora a pobreza alheia e as crendices do povo. Através deste personagem bizarro, o autor revela a crescente entrada do capital exterior no Brasil. Não poderia ser mais clara a alegoria: os devedores trancados em jaulas.
Ela é a representante da classe rural em queda livre. Seu sobrenome, Lesbos, indica suas inclinações homossexuais. O pai, antigo fazendeiro, viu sua fortuna desaparecer, num contexto marcado por atos de depravação. A moça se casa por conveniência, mas o marido tem plena consciência disso e também tira lucros desta falsa união, que representa a junção de duas classes permeadas pela cobiça capitalista.
Para retratar este ambiente socialmente hipócrita, a peça mescla revista, circo, ópera e farsa. Na mão de cada morto, a vela simboliza o abuso da boa-fé popular e a conquista da fortuna pelo protagonista, que futuramente conhecerá a ruína e a morte, não sem antes