O rei da vela
No título da peça, a palavra vela significa agiotagem, isto é, empréstimo de dinheiro a juros extorsivos. O protagonista, Abelardo I, é proprietário de uma firma de agiotagem, a Abelardo & Abelardo, que serve de cenário para o primeiro ato da peça. Seu sócio, Abelardo II, vestido de domador, recebe clientes que saem de uma jaula. Os devedores são tratados com desprezo e violência. Aparece para uma visita Heloísa de Lesbos, noiva de Abelardo I, pertencente a uma família tradicional, salva da bancarrota pelo dinheiro do noivo.
O segundo ato tem como cenário uma ilha tropical, presente de Abelardo I à noiva. Instala-se ali um clima de grande liberdade sexual: Heloísa troca intimidades com Mr. Jones, americano com quem seu noivo mantém alguns negócios e que desperta interesse em Totó Fruta-do-Conde, irmão homossexual de Heloísa. Abelardo I vive uma noite de amor com a sogra, Dona Cesarina, e acerta outro encontro sexual com a tia da noiva, Dona Poloca, cuja virgindade sexagenária é proclamada a todo momento. Há ainda a presença de João dos Divãs, na verdade Joana, a irmã lésbica de Heloísa, e de seu primo Perdigoto, que arranca um empréstimo de Abelardo I, destinado a montar uma milícia fascista para combater os camponeses que insistem em invadir sua propriedade.
O terceiro ato retorna ao escritório de Abelardo & Abelardo. Vítima de um golpe, Abelardo I lastima sua falência, tendo a noiva aos seus pés. Com um revólver nas mãos, dirige-se aos espectadores e declara que eles assistirão a um final digno de dramalhão: suicídio no terceiro ato. Sem conseguir levar o gesto adiante, pede ajuda ao Ponto (auxiliar de cena que, escondido do público, lembra ao ator as suas falas quando necessário), mas este se recusa a auxiliá-lo. Fecha-se a cortina do palco. Ouvem-se salvas de canhão e um grito de mulher. Quando a cortina reabre, Abelardo I está agonizando sobre uma cadeira e a noiva deitada em uma maca. Entra em cena Abelardo II, com exageradas vestes de