O realismo maravilhoso na América Latina
¿Pero qué es la historia de América toda sino una crónica de lo real maravilloso? (CARPENTIER, 1967 apud ANDREU, 2011, p.34). É com esta frase que Carpentier termina o prólogo, numa espécie de manifesto da nova orientação ficcional, de seu romance El reino de este mundo, de 1949, que ele instala e consagra o termo às novas narrativas hispano-americanas, pois para ele o cotidiano americano, naturalmente insólito, as mestiçagens, a presença de povos diversos, da abundância da mitologia faz da América uma colecionadora de prodígios naturais, culturais e históricos, permitindo a sublevação de mudanças, metamorfoses e ações inexplicáveis pela lógica do senso comum. “Essa matéria ligada ao sobrenatural configura o cenário do maravilhoso” (MICHELLI, 2012, p.124).
A definição do maravilhoso entra no contexto literário com os estudos de Tzvetan Todorov, búlgaro, naturalizado francês, crítico literário, filósofo e linguista, em 1970 publica Introdução à literatura fantástica colocando o maravilhoso “na classe das narrativas que se apresentam como fantásticas e que terminam por uma aceitação do sobrenatural” (2004, p. 58). Para ele, “Relaciona-se geralmente o gênero maravilhoso ao conto de fadas; de fato, o conto de fadas não é senão uma das variedades do maravilhoso e os acontecimentos sobrenaturais aí não provocam qualquer surpresa” (2004, p. 60), ou seja, nos contos maravilhosos as emoções estão ausentes, os prodígios fantasiosos são totalmente possíveis (burro falante, princesa que vira ogro, gato esgrima), a realidade é recusada (era uma vez, etc.) e a ambiguidade (beleza vs feiura). Concluímos então que esta relação que Todorov faz ao maravilhoso, associando-o ao conto de fadas está mais ligada ao “maravilhoso puro” que ele descreve em estreitamento ao estranho, “sem limites claros” (CHIAMPI, 2012, p. 60).
Em sua acepção ao maravilhoso, Todorov postula:
No caso do maravilhoso, os elementos sobrenaturais não provocam