São Paulo Dezembro de 2007 O AUTOR É preciso afirmar antes da presente análise de “El reino deste mundo” que Alejo Carpentier é um grande projetista literário e isso é uma assertiva válida pela evidente técnica e formalização utilizada na indicada obra, concebida pelo autor como uma maneira da narrativa adequar-se à temática do livro (que incluiu a magia da vegetação tropical e a desenfreada criação de formas de nossa natureza) sem jamais se perder ou pecar pelo exagero. Problemas que até seriam justificáveis diante da pretensão acima, embora tornassem a leitura algo inviável. Alejo Carpentier demonstrou então ter conhecimento do segredo, da montagem de um engenho literário em limites que podem ser concentrados ou compactados e exatamente por essas noções, as características da obra vão se desvendando aos poucos; em cada parágrafo, nas ligações entre capítulos, nos vínculos entre as partes. E a presente análise procura acompanhar e apontar os registros desta instalação. Mostrar o que se mantém em toda a narrativa, o que surge, o que é diluído em metáforas, o que tem cabimento diante do contexto para, no final concluir, se a técnica encontra a arte, se as duas tornam o autor mais do que somente um projetista, mas o criador de uma obra-prima. O tema do presente trabalho pretende então detectar, contrapor e avaliar as soluções encontradas pelo escritor, para manter o equilíbrio do aspecto estrutural acima identificado (concentração rítmica versus efusão metafórica), e isso em parágrafos e capítulos importantes da narrativa. Destacando ainda a possibilidade de contraste e efetividade do “real maravilhoso”: esta designação maior da literatura do autor, sua marca constitutiva, que pretendia captar a realidade do continente americano através do insólito que a própria realidade do continente lhe oferecia. PRIMEIRA PARTE A primeira característica, destacada já no primeiro capítulo é a oposição entre o mundo dos escravos e o mundo dos senhores. Oposição que cria um ponto