O real e a realidade
Trata-se de um prosseguimento bastante encadeado com o primeiro volume, na medida em que a fantasia é aqui defi nida como a articulação entre pulsão e inconsciente, conceitos ali extensamente abordados.
Alguns dos mais importantes avanços que obtive no estudo agora apresentado são os seguintes: em primeiro lugar, o isolamento de um segmento da obra de Freud nunca antes ressaltado que denomino de “ciclo da fantasia” e no qual situo um dos períodos mais férteis de suas refl exões. Tal período, conforme mostro, não só ressignifi ca etapas anteriores de sua descoberta como ordena de forma decisiva seus desenvolvimentos posteriores. Em segundo lugar, a elevação da fantasia ao patamar de um verdadeiro conceito fundamental da psicanálise, a partir do momento em que seu estatuto fundador é realçado e sua função de mediadora do encontro do sujeito com o real é indicado.
Trata-se aqui de uma nova forma de articular a fantasia com a pulsão de morte, na qual se evidencia melhor a relação entre real e realidade, assim como a função de freio desempenhada pela fantasia em relação ao real do gozo destrutivo da pulsão de morte. O emparelhamento estrutural entre fantasia e delírio é proposto, nesse sentido, com o intuito de permitir estabelecer o papel que a primeira representa na neurose e o segundo, na psicose: ambos constituem esforços simbólicos e imaginários de apaziguamento das invasões bárbaras e inassimiláveis do real. Ambos são telas protetoras que possibilitam o contato
– o laço social – com o outro, o semelhante e o mundo à nossa volta.
Considerando os laços humanos como fantasísticos e delirantes, podemos nos voltar para o estudo da cultura humana munidos de um instrumental psicanalítico muito refi nado. Isso é realizado