O Processo de uma Colcha de Retalhos
Fernando Milliet Roque
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
Poema das Sete Faces
Carlos Drumond de Andrade
Em um ambiente de aula, no intuito de dar ao aluno instrumentos que considera necessários, o professor normalmente toma a atitude de trabalhar a questão repertorial, quer do ponto de vista acadêmico, ou do ponto de vista não formal, de modo a ampliar o espectro de conhecimento necessário para o desenvolvimento dos trabalhos. Faz-se isso na crença de garantir um repertório comum mínimo e uma motivação que garantam um objetivo, aumentando a sua capacidade criativa.
O processo de aprendizagem onde há uma simbiose professor-aluno determina a capacidade criadora do segundo, pois criar pode ser considerado como um “pensar mais forte”, quer como uma atitude lúdica intuitiva, num procedimento “caótico”, quer como um processo racional analítico, onde se disseca o problema que nos encara em lâminas, para análise e reflexão. Pode-se dizer que ambos fazem parte do mesmo todo, uma vez que o percurso criativo começa de modo intuitivo e se desenvolve mais racionalmente. São o céu de Van Gogh e o espaço de Einstein complementando-se.
A criar do objeto artístico num ambiente de aula não é algo estático, sendo que várias vezes o processo é mais importante que o próprio resultado. E esses dois elementos, processo e resultado, são fundamentados e fortalecidos em relação direta com o envolvimento e compromisso. E embora nosso contato como espectador é com a obra acabada, com apenas 10 porcento do processo é visível, ele é vital para o resultado.
O entendimento que a “Óptica (1703) de Newton e a Doutrina das Cores (1810) de Goethe dão visões complementares do mesmo fenômeno, um sob o ponto de vista analiticamente explícito e o outro vagamente descritivo dos sentimentos pessoais”, Leshan & Margenau (1982:197-198),