O Processo de inovação nas biotecnologias: a passagem do objeto de conhecimento ao objeto industrial
José Wladimir Freitas da Fonseca*
Na última década, o desenvolvimento econômico apoiado na área de biotecnologia assistiu a uma invasão repentina e violenta dos “organismos geneticamente modificados” na esfera do consumo e o surgimento de novas tecnologias no quadro do ser vivo que supõem um duplo domínio: de um lado, a montante, no domínio do conhecimento do ser vivo que resulta de uma pesquisa fundamental; de outro, no domínio da fabricação de produtos suscetíveis de responder a uma demanda social, o que supõe a existência, a jusante, de mercados necessários ao escoamento de mercadorias de novos procedimentos.
Encontramo-nos, portanto, em um processo de inovação, conforme o duplo sentido dão Cohendet e Gaffard (1990, p. 935): de um lado, pois “a inovação não é nada mais do que o processo pelo qual tecnologias, previamente definidas fora da esfera da economia, são adaptadas e difundidas no tecido econômico pelas empresas”; de outro, pois “ se reconhece que a constituição das tecnologias é um fenômeno essencialmente econômico de tal forma que a inovação é o processo pelo qual elas são criadas”.
Todavia, isso supõe que as empresas de biotecnologias se inscrevem nas redes científicas nas quais os laboratórios públicos de pesquisa (na maior parte dos casos) ocupam um lugar determinante; ademais, o desenvolvimento do conhecimento do ser vivo se codifica mais do que ele se tecniciza e se finaliza, o que revela a importância dos processos de industrialização.
No domínio das biotecnologias, talvez mais do que em outros domínios, se coloca o problema, o qual chama-se mais geralmente de transferências de tecnologias entre os laboratórios, onde se desenvolve a engenharia de procedimentos no domínio do ser vivo
(engenharia genética, enzimática, etc…), e o setor industrial no qual os procedimentos são destinados a fim de permitir uma melhor valorização.