O processo de desnaturalização ou estranhamento da realidade
Por estranhamento, entendemos a postura metodológica que orienta a prática científica no sentido de desenvolver a atitude de se propor a conhecer a realidade social como observador, que olha de fora, e não de dentro, como se fizesse parte dela. Ou seja, conhecer a sociedade em que vivemos, construindo um distanciamento diante dela, como se tudo aquilo que existe e acontece fosse estranho e não familiar. O estranhamento implica desnaturalização; ou seja, implica não tomar como natural os acontecimentos da vida em sociedade, as explicações e concepções existentes a respeito dela. Isto é, recusar os argumentos que “naturalizam” as ações e relações sociais, e impedem de percebê-las como produto da ação humana na história. Trata-se, portanto, de olhar para os fenômenos que acontecem na sociedade – que aparentemente nos parecem naturais e familiares, pois esses fatos se repetem, com eles convivemos e achamos que os entendemos – como se eles fossem estranhos ou exóticos, e requeressem uma explicação. O pressuposto, portanto, é o de que ter familiaridade não significa conhecer; é necessário construir um conhecimento orientado pelo distanciamento em relação às coisas que tomamos como objeto de nossa observação e análise. Segundo Bauman, ‘’o que nos parece como familiar é dado como autoexplicativo, não apresenta problemas nem desperta a curiosidade’’. É nesse sentido, portanto, que as Ciências Humanas, na medida em que se propõe a questionar e desvendar o mundo que nos cerca, desestabiliza as certezas e as explicações tomadas como definitivas e insuperáveis.
‘’A desfamiliarização pode ter benefícios evidentes. Pode em especial abrir novas e insuspeitadas possibilidades de conviver com mais consciência de si, mais compreensão do que nos cerca em termos de um eu mais completo, de seu conhecimento social e talvez com mais liberdade e controle.” (BAUMAN).
É isso que leva um autor como Bourdieu a dizer que as