O primeiro passo Tolstoi
O primeiro passo
I
Em todos os atos de sua vida o homem deve empregar certo método, sem o qual, os fins que persegue não podem ser alcançados. Assim deve ser feito, quer se trate de coisas materiais ou espirituais. Tão impossível será ao padeiro fazer pão se não amassou a farinha e aqueceu o forno, como não poderá o homem que aspire a uma vida moral realizar seu sonho, se não conseguiu previamente adquirir as diversas qualidades cujo conjunto faz que se diga que as possui: “É um homem de uma vida moral inatacável.” Será preciso ademais que, para adquirir estas qualidades, siga uma marcha lógica e ordenada; que comece pelas virtudes fundamentais, e que suba uma atrás da outra as etapas que hão de levar-lhe ao fim que anseia. Em todas as doutrinas morais, existe uma escala que, como disse a sabedoria chinesa, vai da terra ao céu e cuja ascensão não pode realizar-se de outro modo que começando pela primeira etapa. Prescrevem a mesma regra os brâmanes, os budistas e os partidários de
Confúcio; encontra-se também nas doutrinas dos sábios da Grécia.
Todos os moralistas, tanto os deístas como os materialistas, reconhecem a necessidade de uma sucessão definitiva e melódica na assimilação das virtudes sem as quais não há vida moral possível. Esta necessidade se desprende da mesma essência das coisas, e parece, portanto que todos deveriam aceitá-la. Mas coisa estranha! desde que o cristianismo se converteu em sinônimo de Igreja, a consciência desta necessidade tende a apagar-se e só a conservam os ascetas e os frades.
Entre os cristãos laicos, se admite que um homem possa possuir virtudes superiores sem haver começado por adquirir aquelas que, normalmente, deveriam haver sido conquistadas em primeiro lugar: alguns vão mais longe ainda, e pretendem que a existência de vícios determinados de um indivíduo não o impedem de possuir ao mesmo tempo virtudes elevadas. Resultou disto que hoje, entre os laicos, a noção da vida moral está, se não perdida,
muito