O Positivismo
(...) Se se tentasse formular o que seria o tipo ideal do positivismo, uma espécie de síntese fundamental das idéias do positivismo, poderiam ser selecionadas três idéias principais:
A sua hipótese fundamental é de que a sociedade humana é regulada por leis naturais, ou por leis que têm todas as características das leis naturais, invariáveis independentes da vontade e da ação humana tal como a lei da gravidade ou do movimento da terra em torno do sol: pode-se até procurar criar uma ação que bloqueie a lei da gravidade, mas isso se faz partindo de que essa lei é totalmente objetiva, independente da vontade e da ação humana. Desse modo, a pressuposição fundamental do positivismo é de que essas leis, que regulam o funcionamento da vida social, econômica e política, são do mesmo tipo que as leis naturais e, portanto, o que reina na sociedade é uma harmonia semelhante à da natureza, uma espécie de harmonia natural.
Dessa primeira hipótese decorre uma conclusão epistemológica, de que os métodos e procedimentos para conhecer a sociedade são exatamente os mesmos que são utilizados para conhecer a natureza, portanto, a metodologia das ciências sociais tem que ser idêntica à metodologia das ciências naturais, posto que o funcionamento da sociedade é regido por leis do mesmo tipo das da natureza. Essa segunda conclusão epistemológica, que eu chamaria de naturalismo positivista, decorre de maneira totalmente lógica da primeira: se a sociedade é regida por leis do tipo natural, a ciência que estuda essas leis naturais da sociedade é do mesmo tipo que a ciência que estuda as leis da astronomia, da biologia etc.
A terceira conclusão, que é talvez a mais importante para a nossa discussão, é que da mesma maneira que as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas, sociais ou outras, as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica. Isto é, o cientista social