O poema Ulisses integra a 1 parte
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo. Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou. Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
O poema Ulisses integra a primeira parte - Brasão - da obra Mensagem de Fernando Pessoa.
O assunto do poema desenvolve-se em três partes lógicas, que correspondem às três estrofes que o compõem.
Na primeira parte, o poeta apresenta-nos uma definição de mito, “o mito é o nada que é tudo”.
Esta definição concretiza-se nos restantes quatro versos da estrofe quando o sujeito poético afirma que o próprio sol é um mito, apesar de mudo ilumina os céus e é o corpo morto de Deus que, parecendo morto, se revela vivo e iluminado.
Na segunda estrofe, Fernando Pessoa desenvolve o assunto do poema referindo-se a Ulisses "Este", que sendo uma lenda, um mito, aportou em Lisboa e constituiu um impulso para o povo português que veio a construir um império, cuja capital seria Lisboa.
"Este aqui aportou... sem existir... nos criou."
Na terceira estrofe, o poeta conclui "Assim" que o mito é uma lenda “fecunda” que penetra na realidade, infiltrando-se como um sinal divino na vida, que sem esta força mágica fica reduzida a "metade de nada" acabando por morrer. Ou seja, a vida não é nada e sem mito, morre.
Por conseguinte, pode-se concluir que as origens de Portugal, à semelhança de outras grandes nações, estão ligadas a um mistério, uma lenda. Neste caso, o mito é Ulisses, herói lendário fundador de Lisboa, capital do nosso império e coração da nossa pátria.