O Poder Pol Tico
Se o poder, como afirmou Bertrand Russel, é o conceito fundamental das ciências sociais, da mesma forma que a energia é o conceito fundamental da física,1 não se pode compreender o funcionamento do organismo político sem perceber em profundidade em que consiste essa energia social, cuja fonte primária se encontra, na verdade, no eu profundo de cada um de nós.
A paixão pelo poder
O impulso pela conquista e manutenção do poder, em qualquer meio social – familiar, tribal, nacional ou internacional – e em suas diferentes modalidades – poder político, econômico, religioso, cultural – tem-se mostrado uma das mais fortes paixões a agitar o coração humano. “A maior parte dos homens”, observou Aristóteles, “deseja exercer um poder absoluto sobre muitos”. Thomas Hobbes compartilhou inteiramente essa opinião: “Antes de mais nada”, disse ele, “reconheço como uma inclinação geral do gênero humano o desejo perpétuo e incansável de poder e mais poder, inclinação essa que só cessa com a morte”.2 E a razão disso, como anunciou o Duque a Sancho Pança, na véspera de sua posse como governador da fantástica ilha Barataria é “ser dulcísima cosa el mandar y ser obedecido”.3
Para a sabedoria grega, tal paixão nada mais seria do que o orgulho desmedido (hybris), considerado o mais devastador dos defeitos humanos, segundo adverte o coro no Agamenon de Ésquilo (375 – 379). “A hybris, quando amadurece”, declama um personagem de outra de suas tragédias,4 “produz a espiga do crime, e o produto de sua colheita é feito só de lágrimas”. A paixão pelo poder chega mesmo, por vezes, a pôr na sombra o impulso natural do amor materno, como o gênio de Shakespeare bem intuiu. Advertida pelo marido da profecia lançada pelas três feiticeiras de que ele seria rei, e sentindo que o temperamento do consorte é todo feito de ternura (“I fear thy nature; it is too full o’ the milk of human kindness), Lady Macbeth invoca os espíritos infernais para que eles mudem o seu sexo frágil, enchendo-a,