O pior aspecto do Brasil
Moro no Brasil há mais de quatro anos, o que tem sido incrível em quase todos os aspectos, incluindo as formas que arrumei para me adaptar à cultura local. Por outro lado, há partes do país e do meu processo de adaptação que não gosto. Odeio sobretudo a forma como me tornei insensível a níveis chocantes, brutais e ridículos de desigualdade, que minam o avanço do país. Me acostumei a eles, passei a vê-los como algo de certo modo aceitável.
Normalizar a desigualdade é uma das características fundamentais para ser um autêntico “brasileiro”. A maioria dos estrangeiros percebe isso logo que chega ao Brasil. Os locais entendem que a desigualdade extrema é apenas um fato da vida e trazer o assunto à tona é considerado de mau gosto, assim como tentar transgredir os limites de classe estabelecidos. Não à toa, se preocupar demais com esse assunto ou querer conhecer o Brasil fora dos círculos da elite é considerado “coisa de gringo”. Quanto mais me vejo virando local nesse aspecto (e apenas nesse aspecto), mais desconfortável fico.
Recentemente, minha ficha caiu de um modo inesperado: através de um WhatsApp enviado por uma amiga brasileira que visitava os Estados Unidos pela primeira vez.
De Nova York, ela me escreveu o seguinte:
“Uau, estou realmente impressionada com a igualdade social por aqui. Parabéns”.
E completou: “Os negros realmente fazem parte da sociedade aqui, não são excluídos como no Brasil”.
Essa mensagem quase explodiu minha cabeça. Sempre achei meu país extremamente desigual e, mesmo lá, Nova York é famosa por ser uma das cidades mais desiguais.
Sou nascido e criado nos Estados Unidos, um país cheio de problemas óbvios, provavelmente mais problemático que o Brasil, embora nenhum desses problemas me pareça