O país, a mulher e o tempo
Mudar é um verbo que exige complemento verbal. No curso de nossa história, seja sob o ângulo biológico ou humano, escolhemos para satisfazer essa transitividade – além de nós mesmos – aquilo que nos cerca. A mudança, assim, é inerente ao homem, tornando-se, com isso, precursora e mantenedora tanto do progresso quanto da humanidade. Contudo, é notável o quadro em que muitas sociedades deste século se encontram, impassível de modificações e, pior, de reconhecimento. Por este lado, nesse decadente cenário se situa a mulher, condicionada à categoria de “gênero inferior” e cativa da submissão. A sujeição do “sexo frágil” na civilização brasileira parte, antes de tudo, do neolítico. Nesse tempo, o mundo tribal do Homo sapiens girava em torno do matriarcado. A famosa Vênus de Willendorf evidencia tal caráter, expondo a mulher como deusa-mãe e figura dominante. Com a ocorrência, entretanto, de uma série de fatores durante a Idade Antiga, estabeleceu-se no ocidente o patriarcalismo, realidade esta vigente até os dias de hoje. O mundo judaico-cristão é, sem dúvida, patriarcal. O Brasil, como país ocidental, herdara os moldes sociais em que o papel de autoridade maior é exercido pelo homem. Tratase de um aspecto decorrente do período colonial, sendo retratado, inclusive, nas obras de Debret. Outro meio que confirma esse panorama é o cinema nacional. A partir do filme “Desmundo”, de Alain Fresnot, é nitidamente visível a subordinação secular da mulher, exercendo a protagonista Oribela, naquela sociedade, o papel de procriadora e dependente social. Atualmente, o reflexo dessa dependência dá fundamento a uma idéia enganosa. Popularizou-se, principalmente entre as classes D e E, a crença de que uma criança garantirá um matrimônio e, deste modo, um meio de subsistência. Todavia, é nesse ponto que muitas se iludem logo que, desfeita a união, sucede-se o abandono das companheiras – normalmente entre dezesseis e vinte anos – incumbidas da criação dos