O Narrador
Benjamin identifica em Leskov, escritor russo, os traços grandes e simples que caracterizam o narrador. Mas, segundo ele, descrever este escritor como tal não significa aproximá-lo de nós, e sim, aumentar a distância que nos separa dele. Pois, o que nos impõe a exigência dessa distância e desse ângulo de observação é uma experiência quase cotidiana de que a arte de narrar está em extinção. Para ele, as pessoas que sabem narrar devidamente são cada vez mais raras e isto se explica pelo fato de que as ações da experiência estão em baixa.
O autor defende a ideia de que entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se diferenciam das histórias orais. Assim, divide a figura do narrador entre dois grupos: o que vem de longe e o que não sai do seu país. Segundo ele, se o desejo é concretizar esses dois grupos por meio dos seus representantes arcaicos, os exemplos são: o camponês sedentário e o marinheiro comerciante. Estes dois estilos são os que de certo modo produziram suas respectivas famílias de narradores. Mas, foram os artífices que aperfeiçoaram a arte de narrar dos camponeses e marujos e, no sistema corporativo o saber das terras distantes se associava com o saber do passado.
Em relação a isto, Benjamin aponta que Nikolai Leskov está à vontade tanto na distância espacial como na distância temporal. Exercendo a função de agente russo de uma firma inglesa, as viagens pela Rússia trouxeram um enriquecimento à sua experiência do mundo e aos seus conhecimentos sobre as condições russas.
O senso prático é mais uma das características, de muitos narradores natos, apontada por Benjamin.