O método
O método 6: ética Maria da Conceição de Almeida
UFRGN
“A ÉTICA SE MANIFESTA em nós de maneira imperativa, como exigência moral.” Esse imperativo origina-se de três fontes interligadas entre si: uma fonte interior ao indivíduo, que se manifesta como um dever; outra externa, constituída pela cultura, e que tem a ver com a regulação das regras coletivas; e, por fim, uma fonte anterior, originária da organização viva e transmitida geneticamente.
Esse macroargumento que abre a introdução do Método 6, de Edgar Morin, é um divisor de águas no oceano das inumeráveis interpretações filosóficas e sociológicas sobre ética. E isso porque, via de regra, essas interpretações encarceram a ética num mundo noológico autônomo, dirigido por uma consciência transcendente e uma razão ideal; ou numa axiomática da moral coletivista, difusa e universal; ou no domínio das contingências individuais e das singularidades subjetivas, que acabam por degenerar a ética em moralia, conforme expressão de Nietzsche. Pautadas na concepção da condição humana extirpada dos domínios da vida e da matéria, e na noção antropocêntrica de sujeito, ou seja, limitada à experiência humana, as interpretações clássicas da ética apresentam hoje suas brechas e insuficiências. No novo patamar inaugurado por Edgar Morin, a tríade indivíduo-sociedade-espécie, tanto quanto a dialógica natureza-cultura e individual-coletivo, servem de tela para reconstruir a idéia de ética no intercruzamento da história da vida, da história da cultura e da história individual. Isso só é possível porque a concepção de sujeito elaborada pelo autor ao longo de toda sua obra vale, como ele próprio anuncia no Método 6, para todo ser vivo – mesmo que o sapiens-demens opere uma diáspora sem prescedentes no interior da história da humanidade pela complexificação do padrão de inacabamento e pela propensão à diversidade e conseqüente singularização do su-
Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto